Está difícil escrever nesses tempos. E tenho a leve impressão de que não estou sozinha nessa constatação.
Desde que a pandemia começou, estamos sendo engolidos por acontecimentos trágicos todos os dias, que disputam espaço nas nossas conversas e nos nossos horrores cotidianos (na verdade essa avalanche de absurdos começou um pouco antes da pandemia, na minha opinião, mas não vou entrar nesse mérito aqui). Vivemos há mais de um ano amedrontados por um vírus, cheios de limitações que nunca tínhamos sequer imaginado que um dia sofreríamos, e assistindo a um verdadeiro filme de terror passar diante dos nossos olhos. Não que a nossa realidade fosse muito boa antes, não é isso. É que a pandemia parece ter colocado uma lente de aumento nos fatos e virou uma justificativa para muitos desses casos horripilantes que estamos vendo.
Extermínio de negros e povos indígenas elevados à máxima potência, violência policial, feminicídio aumentando assustadoramente, sumiços misteriosos de crianças, falta de oxigênio, negação de vacinas, festas clandestinas irresponsáveis, CPI da Covid, desmatamento em alta, mais de 450 mil mortes… é muita informação ruim todos os dias! Lidar com isso, para quem escolheu não se alienar no seu mundinho, tem sido cada vez mais difícil. Parece que estamos caminhando para um fim.
Será que temos saída? Quando veremos uma luz no fim do túnel? Todos os dias, em minhas orações, eu sequer sei como pedir a Deus pra nos tirar desse cenário sombrio, pois pra mim estamos numa situação tão difícil que só Ele mesmo, com sua sabedoria imensurável, pra saber como nos livrar. É por isso que apenas entrego em Suas mãos.
Tenho produzido pouco aqui no blog porque me vejo tomada por uma letargia consciente de imensa proporção. Digo letargia consciente porque tenho acompanhado o que o país tem atravessado, tenho visto os noticiários da TV, os sites de notícia, os comentários de especialistas e fico cada dia mais petrificada diante de tudo. Peço desculpas pela falta de produtividade, mas tá difícil ter inspiração pra escrever nesses tempos… é tanta coisa pra falar que a gente não sabe nem por onde começar e a angústia toma conta. Por isso hoje resolvi dividir isso com vocês e dizer (pra mim mesma, principalmente) que precisamos reagir, apesar de tudo. Precisamos sobreviver para mudar, porque neste momento a sobrevivência é um ato de resistência. Nos querem mortos e mortas, é um projeto oficial em curso. Vamos subverter. Que Deus nos dê forças.
1 Comentário
Isabela
Vi em termos gerais que a sua preocupação é com machismo em crescimento e sendo apoiado inclusive por algumas instituições religiosas.
Machismo é violência contra a mulher. É coisa de broncos querendo se locupletar e satisfazer muitas vezes os seus instintos animalescos, sem levar em conta a individualidade, o entendimento, a reciprocidade… Enfim lista longa…
Tenho visto e acompanhado com pesar o crescimento e fortalecimento destas posturas. muitas vezes por despreparo total dos pais, onde o pai talvez seja um outro machista convencido e a mão subjugada, oprimida, muitas vezes por convicções arcaicas e religiosas.
Tenho acompanhado as publicações do casal “Dea e Jal”no Instagram e no Facebook. Não me considero ter sido machista mas afirmo que muitos dos ensinamentos deles mudaram a minha vida e o meu relacionamento no meu casamento. Acho que o trabalho deste casal devia ser divulgado e se tornar uma educação sexual para todos jovens (adultos também). Tipo de educação que não recebemos. Muitas vezes (quase sempre) aprendemos sexo com amigos que na verdade nada sabem a respeito.
Admiro a sua coragem de propagar estas ideias.
Cordialmente
Miguel