Essa é a segunda parte da pesquisa que fiz sobre pastorado feminino. Para ler a primeira parte, clique aqui.
Essa pergunta foi feita somete aos homens e o resultado também surpreende pela falta de compatibilidade com aquilo que a gente vê na prática: a maioria afirmou que apoiaria por acreditar que Deus chama homens e mulheres (55%). Se somarmos com os que disseram apoiar mesmo não acreditando que seja bíblico, são 64%. Se a maioria dos homens apoia o pastorado feminino, por que o número de pastoras é tão baixo? Será que é porque realmente não temos habilidade natural para liderança? Ou será que é porque, na prática, não encontramos incentivo nem oportunidades para tal?
Na minha opinião, essa questão foi a mais reveladora no sentido de deixar explícito que há um abismo enorme entre o discurso e a ação.
Essa questão foi dirigida somente às mulheres e é a única que exige que a resposta seja intuída, ou seja, elas não deram uma resposta direta, mas baseada na percepção que têm de seus companheiros. Tanto aqui quanto nas respostas masculinas foi levado em consideração que algumas pessoas poderiam ser solteiras, restando a elas apenas a possibilidade de responder “Não sei”.
Feita essa consideração, ainda assim percebe-se que a quantidade de mulheres que afirmaram acreditar que seus companheiros as apoiariam na decisão de se tornarem pastoras é muito menor do que a quantidade de homens que afirmaram fazê-lo. Se 64% dos homens disseram que apoiariam, apenas 43% das mulheres percebem isso, o que significa que há uma comunicação pouco clara entre vários casais acerca do assunto, já que a maioria das mulheres não se sente apoiada pelo companheiro nesse quesito. Ainda que muitos homens acreditem que as mulheres podem exercer liderança pastoral nas igrejas, eles não deixam isso claro para suas parceiras. Mas qual seria o motivo? Medo? Insegurança? A velha crença de que “outras mulheres podem, mas a minha não”? Ou será que isso aponta para a ausência de diálogo entre muitos casais?
Apesar dessa questão também ter trazido respostas que não dialogam com a realidade, ela traz um desfecho esperançoso: 64% dos homens e 72% das mulheres disseram NÃO, ou seja, para a maioria dos entrevistados o pastorado feminino não compromete a autoridade masculina no casamento. Com isso, pode-se concluir que as pessoas, de um modo geral, entendem que dar autoridade à mulher não significa tirar a autoridade do homem. Então por que temos tanta dificuldade em aceitar / permitir mulheres nas posições de liderança?
Com essa sondagem eu pude perceber três coisas:
Para finalizar, é importante lembrar que o caminho da persuasão utilizado pelas lideranças machistas na igreja não é racional, é puramente emocional e apelativo (além de raso): “é assim porque está na Bíblia”; “Deus não se agrada”, “você está desobedecendo”, “a porta da salvação é estreita” e por aí vai. Os argumentos são baseados em interpretações da Bíblia que desconsideram seu contexto histórico e social (já falei disso aqui e aqui). No entanto, para fazer um estudo sério dos textos sagrados, é imprescindível levar em consideração uma série de fatores que interferem diretamente no seu conteúdo – como quem fala, para quem fala, aonde fala, as circunstâncias sociais, políticas e econômicas, a escrita original, a forma como foi traduzida, dentre outros aspectos. Desconfie de quem não faz isso e tenta forçar uma interpretação literal de alguns trechos.
Bem, aqui eu quis me limitar ao detalhamento da minha “mini-pesquisa”, mas no próximo texto falarei especificamente sobre a questão do pastorado feminino: é antibíblico? É errado? Por que ele é tão demonizado? Continuaremos esse assunto aqui.