Você já deve ter percebido que existe um perfil ideal de mulher. Não estou nem falando de perfil físico, pois já tratei disso aqui. Estou falando de um perfil de personalidade. Mulheres têm que ser meigas, sensíveis, educadas, amáveis, sorrir sempre, falar baixo, nunca dizer não e viver em função de agradar os outros. E se a mulher for crente, pior ainda! Tem que ser “mansa”, sábia, obediente, não questionadora e sempre pronta para o serviço. Imagina o meu conflito quando descobri que apesar de ser mulher e crente, eu passo muito longe desse perfil! Já perdi as contas de quantas vezes fui chamada de ousada só porque não aceitei determinadas situações que me colocavam em desvantagem (não sou melhor do que ninguém, mas também sei que não sou pior). Já me chamaram de mandona, desaforada, insubordinada e muitos outros adjetivos nada legais de se ouvir. Conheço bem os meus defeitos e faço um esforço enorme para amenizá-los, mas na maioria das vezes em que ouvi esse tipo de coisa foi simplesmente porque eu não fiz o que os outros esperavam ou não adotei uma postura passiva, de “mulherzinha”. Mulher que pensa e age por conta própria incomoda, né?
A verdade é que a sociedade nos cobra uma postura que é ideal para os homens. Nossa obrigação é ser magra, bonita e servir sempre. Questionamentos? Queixas? Inteligência? Opinião própria? Não, isso não é pra nós, isso é coisa de mulher “problemática”, “barraqueira”. Temos que ser dóceis porque assim é mais fácil de dominar. As diferenças são desconsideradas, desqualificadas e quem foge desse perfil ideal sofre muito.
Demorei pra aceitar que não sou uma mulher meiga. Sou bastante crítica, questionadora, muitas vezes explosiva e falo muito (muito mesmo!). Como todas as pessoas, vivo tentando equilibrar essas características, porque tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. Mas por um bom tempo eu tentei mascarar esse meu jeito de ser simplesmente porque me cobravam que eu fosse de outro jeito (o “jeito certo” de ser mulher). Depois de muito me torturar, percebi que Deus me deu essa personalidade não para ser mudada, mas sim para ser trabalhada em favor da causa dEle. Deus não criou o ser humano numa linha de produção industrial. Ele nos fez diferentes, sim, para que em nossa pluralidade soubéssemos desenvolver sentimentos caros como respeito, solidariedade, empatia e cooperação. Nossas diferenças nos mostram o quanto somos incompletos sozinhos, mas o quanto somos fortes em grupo – cada um com seu valor. Foi para isso que Deus nos fez diferentes, com qualidades e defeitos: para nos dar humildade (afinal, ninguém é perfeito) e nos ensinar a viver em sociedade. Jesus teve doze discípulos, cada um com uma personalidade diferente. E Ele fez um belo trabalho com esses doze. O que faltava em um, o outro tinha. É assim que Deus quer fazer conosco.
Independente da nossa personalidade, é importante que nos aceitemos como somos, pois não adianta agradar o mundo e viver contrariada consigo mesma, frustrada e infeliz. Isso não significa, contudo, que devemos celebrar os nossos defeitos – ao contrário, devemos conhecê-los para poder tratá-los, (ainda que saibamos que não é possível alcançar a perfeição na vida terrena). Mas devemos ter em mente que não temos obrigação de ser como os outros querem que sejamos. Até porque “os outros” são muita gente e é impossível agradar a todos. Numa sociedade machista como a nossa, que tem dificuldade em reconhecer como mulheres todas aquelas que não se comportam como bibelôs, é claro que teremos que conquistar esse respeito na marra. A luta é árdua e tá só começando, mas os resultados são de um valor inestimável. Por isso, não seja uma máscara de si mesma, seja você. Reconheça seus defeitos, respeite o jeito de ser do outro, mas se imponha também e ocupe seu espaço. Vai ter crítica? Vai! Vai ter raiva? Vai! É difícil para o opressor ver sua vítima se rebelando. Mas os cães ladram e a caravana passa.