Existem algumas amizades que, definitivamente, não nos fazem bem. Como lidar com elas? Como saber o momento certo de estabelecer limites?
Certamente muitas de nós (talvez todas) já tivemos que enfrentar esse problema ao menos uma vez. É aquele(a) amigo(a) que briga toda hora, que exige dedicação exclusiva, que compete de forma velada ou que tem qualquer outro tipo de comportamento que nos deixa desconfortáveis – pra não dizer incomodadas. É bem difícil lidar com essa situação e a tentativa de diálogo, apesar de ser sempre o melhor caminho, muitas vezes não resolve, gerando apenas mais desconforto e discussões. Resultado: ficamos com aquele sentimento de culpa, como se não estivéssemos correspondendo às expectativas da outra pessoa. E o problema persiste.
Quero falar sobre esse assunto sob uma perspectiva bem pessoal, sem pretensão de querer dizer aqui o que é certo. Em primeiro lugar precisamos entender que existem, sim, amizades tóxicas. E elas não acontecem somente entre mulheres (que fique bem claro!). Amizade entre homens e amizade entre mulheres e homens também podem ser problemáticas. Em segundo lugar, é importante discernir que existem pessoas ruins, que se aproximam de outras para prejudicar, mas também existem aquelas que não são ruins – apenas não sabem conviver de forma saudável (seja porque só tiveram relacionamentos prejudiciais durante toda a sua vida e só sabem reproduzir isso, seja porque são mimadas ou por algum outro motivo que varia de acordo com a história de vida de cada um).
Paulo nos instrui a “suportarmos uns aos outros em amor”, com humildade, mansidão e longanimidade (Ef 4:2). Enquanto cristã, acredito que temos que tentar exercer essa habilidade ao máximo, mas em alguns casos a convivência com determinadas pessoas passa a ser prejudicial a nós mesmas. Quando trouxe para o blog a minha experiência pessoal como vítima de gasligthing, falei sobre um relacionamento amoroso, mas isso pode acontecer também com relações de amizade e até mesmo familiares. Nem todos os relacionamentos que desenvolvemos ao longo da vida são saudáveis e alguns podem até mesmo contribuir para destruir nossa auto-estima, prejudicar nossas escolhas, influenciar negativamente e tirar nossas defesas. É preciso estar atentas para que não deixemos esse tipo de relação nos prejudicar.
Mas e o feminismo? E a sororidade? Sim, temos que exercer sempre mais e mais a empatia, principalmente entre nós, mulheres. O exercício de se colocar no lugar do outro e buscar compreendê-lo sem julgamentos é sempre válido, pois contribui muito para uma convivência harmoniosa. Mas acho que não podemos ser ingênuas a ponto de acreditar que, fazendo isso, conseguiremos resolver problemas de ordem pessoal e psicológica de outras pessoas. Tem gente que carrega tantos problemas consigo que só amizades tolerantes e compreensivas não bastam pra elas. Em muitos casos, essas pessoas precisam também de ajuda psicológica ou psiquiátrica e, antes de tudo, elas têm que querer e se permitir ser ajudadas. Jesus não opera na vida de ninguém sem permissão (“eis que estou à porta e bato”, Ap. 3:20). Por que nós temos que fazer isso? Se você vive uma relação complicada de amizade, na qual já tentou dialogar, ouvir, compreender, ajudar e nada funcionou, provavelmente a chave para a solução desse problema não está em você.
Por isso, nesses casos de amizade tóxica, acho que não temos que nos sentir culpadas por não nos adequarmos às exigências do outro, por não conseguirmos ajudar nem por não conseguirmos suportar esse tipo de relação. A amizade é um sentimento espontâneo e também é uma troca positiva que, mesmo com as diferenças, traz alívio na caminhada da vida. Se você não vive isso, se não há respeito, não há confiança, não há prazer em estar junto, não há compreensão mútua… não é amizade. Relações assim costumam gerar mais mal estar e contendas do que bons frutos e eu, particularmente, prefiro me afastar do que viver em conflito, pois o livro de Provérbios ensina que “sem lenha, o fogo se apaga” (Pv 26:20).
Por que insistir em algo que não traz crescimento e só aborrece? Por que forçar uma amizade que não flui naturalmente e se parece mais com um fardo? Não precisa se tornar um indiferente, mas também não precisa se prender a uma relação que te faz mal. Ore pela pessoa, entregue a vida dela a Deus e siga seu caminho a uma certa distância. Acredito que adotar uma postura de não alimentar uma relação danosa, para preservar a si próprio e também o outro, é o melhor a se fazer quando não se consegue ajudar, pois evita mais desgastes e aborrecimentos. E muitas vezes nós não somos mesmo a melhor pessoa para lidar com determinados casos. Precisamos assumir nossas limitações e ser honestos, sempre pedindo a Deus sabedoria para lidar com esse tipo de situação.
E você, o que pensa sobre o assunto?
1 Comentário
Texto perfeito. Era o que eu precisava.
Eu tinha um “amigo” que no começo eu era a pessoa mais importante do mundo pra ele. Eu era perfeita, eu era maravilhosa. Mas devido à um problema familiar dele e ele ter começado a trabalhar, eu passei a ter inúmeros defeitos, as outras amiguinhas são melhores do que eu pq são estudadas, pq trabalham. Eu não sou nada, sou burra e a única capacidade que eu tenho e pra ser faxineira e cozinheira, fora isso não sirvo pra nada. Só as amigas que tem. E ele deixou bem claro isso. Vive elogiando as outras amiguinhas nas redes sociais e a mim só me bota pra baixo, me alfineta por eu ser cristã e acha que meu modo de agir é errado. Diz que o que ele fala é pra me ajudar é não pra criticar. Sei. É ainda diz que tem consideração por mim é se sente ofendido quando eu revidou as provocações. Tá bom.